Confiante, Valcke confirma 12 sedes e elogia Brasil: 'Trabalhando sério'

Confiante, Valcke confirma 12 sedes e elogia Brasil: 'Trabalhando sério'

 



 

No terceiro dia da primeira das visitas bimestrais que fará ao Brasil ao longo de 2012, a expressão de Jérôme Valckle era de confiança. Entusiasmado com as vistorias em Fortaleza e Salvador na terça-feira, o secretário-geral da Fifa chegou nesta quarta ao Rio de Janeiro, onde terá encontros com o Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014. Em visita à TV Globo, o francês mostrou-se confiante, garantiu que as 12 sedes estão confirmadas, apesar de atrasos nas obras, e disse que o país ainda tem muito trabalho pela frente, mas que está no caminho certo. O dirigente colocou ainda a Bahia quase certa na Copa das Confederações de 2013 e apontou o Ceará como fortíssimo candidato a receber o sorteio final do Mundial, em dezembro do ano que vem, uma vez que o Rio de Janeiro está descartado.

Antes do início da entrevista para o Jornal Nacional, Valcke percebeu que uma televisão exibia o jogo entre Fluminense e Grêmio, pela Copa São Paulo de Futebol Júnior. O francês lembrou que Ronaldinho Gaúcho começou no time gaúcho e, em tom bem-humorado, mostrou estar por dentro do que acontece no futebol brasileiro.

- Afinal, onde Ronaldinho vai jogar? - questionou sorrindo, para em seguida fazer uma revelação. - Na França, dizem que o Paris Saint-Germain quer levá-lo de volta.

As expressões de confiança e o bom humor só deram lugar às críticas e cobranças quando o assunto foi a Lei Geral da Copa. Valcke voltou a cobrar urgência na aprovação, disse que a Fifa já cedeu demais, e bateu o pé quanto à venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios. O dirigente também rasgou elogios ao ex-jogador Ronaldo, agora membro do COL, a quem classificou como esperto e importante no andamento dos preparativos para o Mundial. Romário também foi lembrado. Para o francês, a relação entre o deputado federal e a Fifa começou com o "pé esquerdo", mas melhorou após a visita do ex-camisa 11 à sede da entidade na Suíça para conversar sobre a Lei Geral.

 

Sobre o sorteio da Copa das Confederações, que deve ter seu local e data revelados nesta quinta-feira, em uma entrevista coletiva do COL no Rio de Janeiro, o secretário-geral da Fifa revelou que o evento pode ser levado para um estado que não receberá jogos da Copa do Mundo, e citou Santa Catarina como uma possibilidade. No fim, minimizou o fato de a Seleção só atuar no Maracanã se chegar à final.

- É um desafio, uma motivação a mais.

Nesta quinta à tarde, Valcke, Ronaldo e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, darão uma coletiva no Rio após reunião entre Fifa, COL e governo para acertar alguns detalhes da Copa. O francês voltará ao Brasil em março, acompanhado do presidente da Fifa, Joseph Blatter. O secretário-geral espera que a Lei Geral já tenha sido assinada por Dilma Rousseff, e afirmou que a entidade não pretende abrir mão de mais pontos polêmicos do texto:

- Não podemos esquecer que 95% da renda da Fifa vêm de Copas do Mundo. E esse dinheiro é todo investido no futebol. Não nas federações mais ricas, que já têm muito dinheiro. Mas algumas associações dependem de nós para sobreviver. Sem o dinheiro da Fifa, elas não existiriam.

Confira os principais trechos da entrevista:

Primeira visita de 2012

Vou voltar para a Suíça com bons sinais. As duas cidades que visitei (Fortaleza e Salvador) mostraram que o Brasil está trabalhando sério. Está se preparando.

Fortaleza

Fiquei muito impressionado com Fortaleza. É uma cidade muito bonita, muito turística. Eles estão fazendo um grande trabalho. Está tudo muito organizado, pelo menos tudo o que realmente é importante. Não posso dizer que a cidade receberá o sorteio final da Copa do Mundo, mas é uma forte candidata. Não tem uma cidade que esteja na liderança. Temos algumas cidades que podem sediar o evento. O certo é que (o sorteio) não será no Rio de Janeiro. Nunca na história da Fifa os sorteios das eliminatórias e da Copa do Mundo aconteceram na mesma cidade. Sempre usamos duas cidades.

Jérôme Valcke FIFA (Foto: Marcelo Baltar/Globoesporte.com)

Salvador

Quando cheguei a Salvador, tive o sentimento de que é uma cidade muito especial. O estádio (Arena Fonte Nova) fica em uma localização muito bonita. Tem problemas de acesso. As ruas próximas ao estádio são muito estreitas. Preocupamos-nos muito com a mobilidade. Não queremos que os torcedores gastem muito tempo para chegar aos estádios e acompanhar os jogos. O sistema público de transporte precisa funcionar bem. Quanto à Copa das Confederações, baseado no que eu vi ontem (terça-feira), percebo que eles estão um pouco atrasados. Mas vi nos rostos dos operários muita dedicação e entusiasmo. Não só com a presença do Ronaldo, mas com o trabalho que está sendo feito. Meu sentimento é que eles vão conseguir (colocar a Bahia na Copa das Confederações). Mas nada mais de errado pode acontecer. Salvador não pode mais perder um dia.

 

Em março volto ao Brasil com Joseph Blatter (presidente da Fifa). Até lá, a Lei Geral da Copa tem que estar aprovada e assinada pela presidente Dilma, pelo Congresso e pelo Senado. O tempo está voando. Discordamos em alguns pequenos detalhes, mas concordamos na maioria. O mais importante é assinar logo o compromisso. A Fifa já abriu mão de muitas coisas. Já estamos num nível em que não podemos mais ceder. Já acertamos a questão dos ingressos para os idosos, os índios, as pessoas que recebem bolsa-família... Agora, temos de ter certeza e criar um jeito de que esses grupos receberão seus ingressos. Em relação à venda de cerveja nos estádio, sempre fizemos isso em todas as Copas e nunca houve problema. É um compromisso que foi assinado quando o Brasil soube que receberia o Mundial. É claro que também é uma questão comercial. Podemos discutir, mas não podemos esquecer que 95% da renda da Fifa vem de Copas do Mundo. E esse dinheiro é todo investido no futebol. Não nas federações mais ricas, que já têm muito dinheiro. Mas algumas associações dependem de nós para sobreviver. Sem o dinheiro da Fifa, elas não existiriam.

Comparação com a África do Sul

É difícil comparar o nível das cidades da África do Sul com o Brasil. Mas com certeza a África do Sul tinha mais comprometimento com a Copa do Mundo em todas as frentes do governo. O grande desafio era provar ao mundo que a África podia organizar um Mundial. Já o Brasil é um país diferente, acostumado com grandes eventos. Não precisa provar nada ao mundo. Já conquistou cinco Copas do Mundo. Mas ganhar a Copa não é a mesma coisa que organizá-la.

Legado

Ainda há muito trabalho de infraestrutura a ser feito nas cidades, nos aeroportos, mas ainda temos alguns anos até a Copa do Mundo. Fiquei impressionado quando soube que o Brasil recebe cinco milhões de turistas por ano. Não é porque sou francês, mas a França recebe de 65 a 70 milhões de turistas por ano. Esse eu acho que será um grande legado da Copa do Mundo no Brasil. Muita gente virá ao país. O Brasil será o centro do mundo em 2014. Muitas pessoas vão ver o país pela televisão. O Brasil precisa se mover na questão dos aeroportos, hotéis. Tenho certeza de que a Copa terá um impacto enorme no turismo brasileiro.

Idolatria por Ronaldo

Ronaldo e Jerome Valcke no Estádio Castelão em fortaleza (Foto: Jarbas Oliveira/Agência Estado)

Viajei nesses dias com o Ronaldo, e é impressionante o carinho que as pessoas têm por ele. Não só os trabalhadores dos estádios, mas as pessoas na rua, os policiais, todo mundo. A todo o momento ele para parar posar para fotos e distribuir autógrafos. Ele é uma pessoa muito boa e é muito esperto. Ele quer ajudar e sabe exatamente o que precisa ser feito.

Romário e as 12 sedes

Começamos com o pé esquerdo (risos). Mas melhorou, após o encontro que tivemos na Suíça. O que estava havendo era um mal-entendido. Ele pensava em dez cidades-sedes, mas estamos certos que teremos 12. O Romário também está preocupado e quer que as pessoas de baixa renda possam ir aos jogos. Serão 300 mil ingressos populares na primeira fase, a US$25 (R$ 42). Na segunda fase, o preço pode aumentar um pouquinho mais.

Escândalos

É claro que os casos de corrupção mancham um pouco a Fifa, mas não a imagem da Copa do Mundo. Tudo o que é feito é muito bem auditado por vários comitês.

Estádios

Temos alguns estádios que estão atrasados. Medimos os níveis das obras por três cores.Verde, amarelo e vermelho. No momento, não temos ninguém no vermelho, mas isso pode acontecer de um dia para o outro. Ainda é muito cedo para dizer. É preciso que os estádios passem por testes antes da Copa do Mundo. Na África do Sul, levamos milhares de crianças aos estádios e dissemos: “Façam o que quiserem, o estádio é de vocês”.

Melhor Copa de todos os tempos?

Talvez. Na África do Sul, as expectativas eram muito baixas. Quando acabou, as pessoas falaram: “Uau, eles conseguiram”. Para os brasileiros, para ser a melhor Copa do Mundo de todos os tempos, a Seleção Brasileira precisa vencer. É um país que conquistou cinco Copas do Mundo, mas nunca venceu em casa. É um desafio.

Maracanã

O Brasil só vai jogar no Maracanã se chegar à final. É mais um desafio para a Seleção. É difícil, mas também pode servir como motivação.

 


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